epílogos
um vizinho teve a ideia genial de colocar um sapo num pequeno lago que conserva no jardim. talvez para lhe conferir alguma propriedade mais telúrica ou simplesmente para que toda a gente saiba que está ali. É que o sapo passou as últimas semanas num coaxar nocturno e vigoroso. É normal nesta época do ano e num lago a sério os chamamentos individuais sobrepõem-se uns aos outros formando uma música de fundo quase sinfónica. Curiosamente um pequeno espécime apenas parece ter a capacidade de ser bastante mais ruidoso. De nos fazer notar a peculiaridade do som. hoje no entanto estava diferente, urrante, quase gutural. Talvez ele esteja a par do que se está a suceder, talvez o sinta. A primavera terminou e estes dias são a sua última chance. já não mais é um som irritante para ser algo que dá pena como os epílogos das coisas a que nos habituamos mesmo que não gostemos muito delas. Talvez estas coisas são como os dias e tenham um tom e uma intensidade próprias com notas que se repetem. a vida como melodia.