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o vento atravessa pinheiros
os eucaliptos e os sobreiros
quando chega à areia já vem
perfumado a vida e a terra
e ali se encontra com o sal
e com a luz
deitado na areia passando
grãos pelos meus dedos
imagino que as memórias de
verão mesmo as inventadas
devem ser todas assim

momento dumb do ano

um grande escaldão.

dias especialmente agradáveis

a estrada da figueira até à nazaré. o dourado das areias que se dobram sobre o verde selvagem. km de praias completamente desertas. o isolamento e a solidão dos locais que tocam em nós quando tocamos neles. o sítio e s. pedro de moel. a sensação de liberdade.

a tal "decalage civilizacional"

não é uma noção nova mas pouquíssimas vezes pensamos nela. a de que o grau de desenvolvimento de um país possa ser exprimido através da cultura rodoviária. quando ouço relatos do tráfego em marrocos ou na indonésia penso nisso. quando leio que em algum país nórdico se abandonou o carro em prol da bicicleta penso nisso. quando constato que portugal é o país na europa com maior densidade de auto-estradas fico sem saber o que pensar.

façam lá as rotundas

finalmente lancei o irs este ano

modos de vida

Estava a ouvir um programa radiofónico sobre actualidades cujos dois primeiros participantes terminaram a sua intervenção com elogios a salazar. Ao telefone, não sem grande esforço de articular uma frase entre duas ou três ideias feitas vociferam contra tudo, esforçam-se em encontrar culpados, atacam as mais diversas profissões, corporações, vocações e faixas etárias. O programa, as participações o teor e os panegíricos, os culpados e os inocentes, o aproveitamento que cada um faz dos factos, tudo faz parte desta comédia infernal. Não lhes ocorre que tipo de futuro terá um país cujo povo suspira por um ditador que morreu há mais de 30 anos. Simplesmente não.

ainda um pouco sem palavras

persona (1966) "a realidade invadindo o filme"

ainda um pouco sem palavras

(La Passion de Jeanne d'Arc)(1928)
Includes Richard Einhorn's Voices of Light, a choral and orchestral work that he was inspired to write by viewing the film.
"A rustic woman, very sincere, who was also a woman who had suffered," is how director Carl Theodor Dreyer described Joan of Arc. In his silent, black and white masterpiece of 1927, "La Passion de Jeanne d'Arc", Dreyer captured all three facets of her personality, drawing on a monumental performance from Renée Maria Falconetti

limites

quando era novo o mundo afigurava-se-lhe de uma forma completamente diferente. Tudo era percorrível e as cercas nada mais faziam que marcar lugares como tabuletas. Serviam de orientação. As pretensões de quem queria guardar o mundo pareciam-lhe inúteis, aliás, vãs e presunçosas, como se fosse possível prender os homens a tracejados imaginários para além do percurso das vontades e em especial, da curiosidade.
como tudo mudou
Não havia qualquer transição evidente. Mas agora parecia-lhe que num processo inverso se dava a restituição da propriedade a estas pessoas. Já nada lhe parecia seu ou acessível. Como se os muros e as vedações se tornassem finalmente objectos reais, encarnassem alguma intrínseca função. Via as faces das pessoas, desconfiadas e grosseiras e apenas a estrada lhe parecia tímidamente sua por direito, cercada por rostos opacos, por sentimentos ambigúos. Sentiu-se ligeiramente oprimido naquela linha que desenhavam os seus passos.

operações delicadas

arranjar um peixe-aranha. É um peixe pouco ortodoxo mas saboroso frito.

nectar amargo

os dias já brilham até mais tarde e quando passeio os cães radia aquela luz transversal que pinta as sombras e floresce as côres. Hoje até apareceram nêsperas, redondas e alaranjadas, nectar amargo. O olhar e as vontades espraiam-se. É uma boa altura para olhar e provar os segundos mas dentro de mim fica uma certa tristeza de não me apresentar no meu melhor para tão ilustres oportunidades.

não

eu sei que haverão dias em que não teremos palavras um para o outro e os braços vão mirrar na nossa direcção os braços mirravam e o olhar pendia Sabes não é apenas o amor que diminui somos nós proprios somos nós próprios pequenos, ficavamos encapsulados naquele momento e eu não, não estou pronto, ainda tenho tanta coisa para fazer contigo quero mudar-me, quero mudar-te, quero aquela sorte e um postigo nosso ainda tenho tanta coisa para fazer contigo.

maio


Estas simpáticas plantas são os maios. Eles encarregaram-se de pintar as montanhas todas de amarelo à nossa passagem. São também objecto de uma curiosa superstição que envolve colocar maios nas portas das casas e dos carros.

imbuídos de um competitivo esoterísmo (mas pouco católicos) decidimos que ninguém no norte litoral podia ter o carro mais supersticioso que nós.

pausa

baroñaEn este instante el odio no trabaja (benedetti)

a desmedida das coisas

vêr um telejornal depois de alguns dias ausente é uma experiência quase aterradora. A sensação é de que o mundo enlouqueceu ou está por um fio.