doces fins de verão


trazem-nos a calma de saborear algumas coisas que parecem constantemente perder-se. aplacam as urgências.

o eterno retorno

nunca me senti tão culpado de colocar uma cruzinha numa folha de papel. Olhando para a lista com um pouco de atenção não há como não ver um menu do grotesco, sentir que apenas nos estão a discriminar uma lista de problemas que gostariamos de ter. E que nos pedem a assinatura para esta encenação. Malditos sejam pela escolha que nos colocam, entre a demissão e a cumplicidade, entre o autismo e a comédia.

senilidade II

É no centro da cidade que o preço da terra adquire os seus máximos. Porque é bom e muito cómodo viver no centro as coisas naturalmente tornam-se mais valiosas. Sendo assim é um bem apenas acessível aos mais abastados. Lógicamente é onde se vive menos actualmente. As casas estão abandonadas e a cidade de noite torna-se um corpo fantasma. Não há ricos em número ou vontade suficiente para encher os centros. Os proprietarios esperam pacientemente por melhores dias.

senilidade

A população está estável como se sabe, ou mesmo regressiva. Mas não se pára de construir, construir, furiosamente como se a vida de alguém dependesse disso (e algumas dependem). Constroem-se prédios enormes com pisos sobrepostos porque como se sabe a terra é um bem essencial e o mais caro de todos e não está garantida para qualquer um. E depois as pessoas admiram-se de que ha muitas casas abandonadas e os centros estão desertos. a inevitabilidade ainda admira. Há pessoas que hipotecam a vida a comprar uma habitação e convivem paredes meias com bairros desocupados. Tudo é revolvido como se não houvesse espaço algum que tenha o direito de escapar á presença humana. É uma mancha habitacional com dinâmica própria, que se desloca com ritmos ondulantes pelos mapas do google earth em fastfoward, como um fogo cinzento.