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Uma demissão de um ministro ainda para mais consensual é sempre razão para uma pequena reflexão. Acima de tudo porque é demonstrativo de como as coisas funcionam. E é mais ou menos assim: existe um lugar chamado parlamento onde uma série de pessoas que disputam o poder divergem entre si. O seu mester é ridicularizar, insinuar, insultar e gracejar as opiniões de todos os outros e naturalmente quem é especialmente vocacionado para este tipo de peleja oratória é promovido a porta voz do grupo. Levar um dos parlamentares a perder as estribeiras é o considerado KO técnico, e motivo de grande regozijo. É que neste sistema é a única maneira de legitimamente afastar alguém da acção governativa. A acção governativa propriamente dita é outra coisa. É inabalável. Mesmo que toda a gente seja contra, porque os governantes recebem um mandato de 4 anos para fazerem o que lhes apetece. A isto chama-se "democracia parlamentar". Subtraída a governação (como já vimos muito pouco democrática), resta-nos a inconsequência do dito parlamento em que os governantes tem de ouvir das boas. Isto dá-nos uma saudável sensação de pluralidade e acima de tudo da vox populi. É nesse jogo que acontece a democracia ocidental propriamente dita. Os restantes jogadores aceitam este tipo de jogo conquanto se especializaram nela e lhes garante o acesso ao poder mais ou menos rotativamente. Para que possamos nos indignar (divertir?) diariamente os serviços de comunicação seleccionam-nos todos os dias as partes mais picantes.